Secamente, os tiros ecoaram no fim da tarde. Em disparada, a moto sumiu na próxima esquina. Misturados com restos de pizzas, corpos de jovens negros e pobres se entendiam pela calçada, em frente da casa de um deles.
Essa cena, com pequenas variações de detalhes, ocorreu no Jardim Camila, na Vila Natal, no Jardim Universo, em Jundiapeba, em Brás Cubas, entre novembro de 2013 e julho de 2015. No total, foram, pelo menos, 26 jovens executados.
Esse massacre só foi interrompido porque as mães das vítimas, em novembro de 2015, fundaram o grupo “Mães Mogianas” e passaram a denunciar esses assassinatos. Inês Paz, segundo o G1 de 23 de agosto de 2019, “deu aula para alguns dos 26 mortos … e ajudou a fundar o grupo ‘Mães Mogianas’”.
Logo após as primeiras denúncias, foram presos os PMs Fernando Cardoso Prado de Oliveira e Vanderlei Messias de Barros. O primeiro, foi expulso da Polícia Militar em 15 de fevereiro de 2018. Os processos foram abertos e, após cinco anos, ocorreu o primeiro júri popular em 30 de outubro de 2018.
Na ocasião, “As Mães Mogianas” publicaram um folheto com os seguintes dizeres: “Depois de cinco anos, ocorrerá o primeiro julgamento das chacinas executadas por policiais militares, ocorridas em Mogi das Cruzes. Nossos corações de mãe clamam por justiça, mesmo sabendo que nossos filhos amados jamais retornarão. São cinco anos de sofrimento e de angústia. Essa dor nos acompanhará para o resto da vida. Esperamos que o Júri Popular respeite esse nosso sentimento e faça Justiça”.
No entanto, os dois matadores foram absolvidos tanto no primeiro júri como também no segundo, “por falta de provas”.
A angústia das mães teve ainda que esperar mais 10 meses. O terceiro júri popular só ocorreu no dia 24 de agosto de 2019. Depois de dois dias de julgamento, o ex-PM Fernando Cardoso Prado de Oliveira foi condenado a 132 anos e cinco meses de prisão por seis homicídios, três tentativas de homicídio e associação criminosa. Já o policial militar Vanderlei Messias de Barros foi condenado a 85 anos e nove meses de reclusão por três homicídios e duas tentativas de homicídio.
Na verdade, esses dois assassinos fazem parte das milícias que, em nome do combate ao tráfico de drogas, vêm executando um verdadeiro genocídio da juventude negra e pobre da periferia.
Na verdade mesmo, essas milícias fazem o que elas chamam de “limpeza étnica”.